sábado, 5 de fevereiro de 2011

eis o nosso epitáfio:

quinta-feira, 17 de junho de 2010

elogio da barbárie

a vida é uma escola, mas os vivos nem sempre são alunos. é o que parecem provar os cerca de cem mil judeus ultra-ortodoxos que se reuniram em Jerusalém e Bnei Brak, nesta quinta-feira, em protestos pelas principais ruas dessas cidades.

o tamanho da manifestação impressiona. o seu porquê, mais ainda. os milhares de judeus ashkenazis (descendentes das comunidades judaicas dispersas pela Europa Central e Oriental) demonstravam sua fúria contra uma decisão da Alta Corte de Justiça de Israel que condenou a duas semanas de prisão, por discriminação, alguns pais que se recusaram a permitir que suas filhas estudassem com crianças judias sefarditas (descendentes de judeus da península ibérica e do Oriente Médio), nas mesmas salas.

de acordo com os ashkenazis, é seu direito evitar que suas crianças estudem com outras de níveis distintos de respeito às leis religiosas. afirmam que as duas comunidades (ashkenazi e sefardita) têm origens diferentes e que não querem que seus filhos sejam influenciados [negativamente] pelos sefarditas.

meu espírito irônico se exalta. impossível não pensar no terror das mães alemãs e puramente arianas em imaginar, nos seus piores pesadelos, suas lindas crianças dividindo o mesmo espaço com pestilentos judeuzinhos, naquelas belas manhãs da Europa do entreguerras. ou nos zelosos pais africâneres acordando em uma manhã qualquer de 1994 e tendo que entregar seus filhos pálidos à própria sorte numa sala de aula com zulus, xhosas e sabe-se lá quais outras crianças bantas. tais concessões seriam, no mínimo, uma ode à barbárie.

a região do Levante, frutuosa em conflitos, nos permite degustar os horrores de nossa civilização com a calma de quem lê as notícias durante o café. em um mês de grandes emoções, assistimos de camarote ao cuidado desproporcional do Conselho de Segurança da ONU com possíveis intenções nucleares do Irã; seu aparente desinteresse pela recusa israelense em firmar o TNP; o blatante desrespeito do Governo de Israel ao anunciar novas construções em territórios ocupados durante visita de representante dos EUA, num momento de negociação de paz com os palestinos; as denúncias de que Israel tentara vender armamento nuclear à África do Sul, em meados dos anos 1970; a desastrada ação de comandos israelenses contra a flotilha de navios que buscava romper o bloqueio a Gaza; a decorrente indigestão nas relações de Israel com a Turquia, seu aliado mais próximo na região; e agora esta convicta manifestação de milhares de conservadores em favor de um apartheid religioso, que proteja suas crianças de interpretações impróprias da Torah.

o mais triste de tudo isso talvez seja refletir como Israel - detentor de imbatível superioridade econômica e militar na região, receptor de apoio inconteste do Ocidente, tendo meios pra fazer mais do que já foi feito em toda história pela promoção da paz e da cooperação no Oriente Médio, tendo meios pra levar a outro patamar não apenas as relações internacionais como as relações humanas - permite-se eximir-se dessa nobre responsabilidade e contentar-se em ser uma arrogante e próspera fortaleza militar em meio aos seus vizinhos descontentes.

parte [significativa] da culpa reside nas mentes estreitas desses cem mil que levantam suas vozes pelo direito à discriminação, e que provavelmente foram responsáveis, com o poder dos seus votos, pelo retrógrado gabinete que hoje se esforça em destruir o apreço da opinião pública internacional pelo Estado de Israel.

quem não acredita pode ler no original: http://bit.ly/bpoKR0

foto: Moti Milrod, Haaretz.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

o que ando lendo: primeiro isso aqui, depois isso aqui.

quarta-feira, 24 de março de 2010

"Bravura é chegar em casa bêbado, de madrugada, todo cheio de batom, ser recebido pela mulher com uma vassoura na mão e ainda ter peito pra perguntar : vai varrer ou vai voar?"


Sir Winston Churchill

sábado, 20 de março de 2010

intervenção em Brasília, pra ontem

pra quem não está muito familiarizado com alguns detalhes da crise política que corrói a governança no Distrito Federal, a coluna de Kennedy Alencar na Folha Online esclarece pontos essenciais.

uma intervenção federal para rastrear até aonde se entranham os tentáculos da corrupção no DF seria o melhor presente que Brasília poderia ganhar no seu jubileu de ouro.

impedir que outros corruptos, em especial o "pai de todos" - que governou o DF durante quase toda a Nova República -, retornem ao poder, seria garantir que, em seus próximos aniversários, Brasília se aproximasse dos ideais que pautaram sua construção, e se tornasse de fato uma cidade-modelo, não só de arquitetura e modernismo, mas de cidadania, de qualidade de vida, de civilização.

dá asco ver outros mafiosos se esbaldando em propagandas eleitorais no rádio e na TV, aproveitando a situação pra chutar o cachorro morto e posar de defensores da legalidade e da democracia, outra vez em busca dos votos dos pobres incautos que já os elegeram.

quarta-feira, 17 de março de 2010


não pélo o pêlo
ou
manifesto pela integridade fonética na grafia da língua portuguesa


nada contra o bem-intencionado acordo para a uniformização da escrita da língua portuguesa em todo o mundo;

nada contra as bem-arquitetadas manobras para promover a língua portuguesa a um mais alto patamar, para levá-la ao rol das mais importantes línguas do mundo, para incluir o português no seleto balaio de idiomas oficiais das Nações Unidas;

bem-vindas sejam, até, as novas regras de hifenização propostas pelo último acordo ortográfico, que muito facilitarão a vida daqueles que algum dia almejaram saber onde botar o bendito tracinho, tarefa que beirava o impossível há pouco;

mas tudo, e nada menos do que tudo, contra a infame tentativa de suprimir sinais gráficos longamente aceitos na escrita sob o pretexto de simplificá-la;

tudo, e muito mais que tudo, contra a pequenez daqueles que, sob o disfarce dos reformadores, planejam, com ou sem consciência do mal que fazem, a gradativa destruição de marcas fonéticas que definem, com tanta galhardia, aspectos caros à nossa fala cotidiana, ao nosso entendimento da língua, à nossa demarcação de significados no ato de escrever;

vivam os acentos diferenciais!
mais viva o acento circunflexo!:
patinho feio dos reformadores,
firme bastião do anasalado brasileiro!

[porque para não é pára
nem Pará

e pelo, se não for pêlo
não é de pelar]

não pélo o pêlo da língua portuguesa
porque a última flor do Lácio tem espinho;
não é lisa, antes austera, ao toque estranho
antes esguia, com seus gêneros, seus números
com suas conjugações, ãos, ães

letra por letra, qualquer língua tem

a língua portuguesa, latina, árabe, mossárabe, mediterrânea
é macho de barba na cara
é fêmea de vergonhas cobertas
é carne passada em sal grosso
que se tirado antes de ir ao fogo
vira bucho, vira tripa, vira nó de se enforcar

que morra eu antes do acento
porque no dia em que ele acabar
no dia em que pélo e pêlo forem a mesma coisa
já não há português; o que há é paradoxo
o que há é o meu lamento.

segunda-feira, 1 de março de 2010

o "custo democracia"

reportagem do jornal Folha de S. Paulo de hoje afirma que o Poder Legislativo do Distrito Federal é o mais caro do Brasil: em 2010, cada deputado distrital custará o equivalente a 14,7 milhões de reais.

é impossível não se questionar qual é o retorno desse investimento astronômico. a Câmara Legislativa, a "casa do povo", onde o povo se apresenta não raro em busca de empregos, lotes, material de construção e outras benesses que acredita valer o seu voto, é notória por ser palco de debates inócuos para a Capital, como a antiga proposta de cercar as quadras do Plano Piloto e as recentes manobras para desenhar um Plano Diretor do Ordenamento Territorial ao gosto das empreiteiras - empreiteiras que construíram a cidade e que hoje a destroem -, empreiteiras que, sem as amarras que só o poder público tem condições de impor, adorariam transformar todo o DF em algo parecido a Águas Claras, um amontoado de edifícios altíssimos de apartamentos, sem qualquer responsabilidade pelo planejamento do espaço público e com um profundo compromisso com o enriquecimento das elites econômicas que fomentam a corrupção no governo do DF.

voltando à carga, a Câmara Legislativa do Distrito Federal custará aos cofres públicos 354,5 milhões de reais em 2010. qual o retorno desse investimento? é válido gastar tanto dinheiro para manter uma casa corrupta e ineficiente? é esse o custo da democracia, é esse o preço que pagamos pelo mero direito - capricho - de votar? se assim for, melhor para a democracia é que se feche a Câmara Legislativa e que o governador do DF volte a ser indicado pelo Presidênte da República.


na foto: o deputado distrital Leonardo Prudente (DEM), ex-Presidente da Câmara Legislativa do DF, flagrado em gravações da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, escondendo dinheiro de propina nas meias. Prudente renunciou ao cargo para não ser cassado.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

um amigo vaidoso me disse que fazia versos e, como se não fosse suficiente, pediu ainda que eu os lesse, sedento pela minha opinião. disse-lhe logo que eram fracos porque, naquele momento, me custaria mais entrar em conflito com a minha consciência que com a sua amizade. toda a poesia é igual, exceto a boa, e de poetas aburridos o mundo já transborda há alguns séculos. mais a mais, quem deseja escrever deve buscar respaldo exclusivamente em suas impressões, e não no elogio alheio. seu sorriso amarelou com a minha sinceridade, e visualizei lhe passar pela cabeça um rol de dúvidas sobre o meu conhecimento de poesia e literatura. fosse eu também tão vaidoso, rebateria essas especulações dizendo que não era necessário conhecer o que quer que fosse de poesia para ver que faltava sal àqueles versos, mas seria injusto um comentário destrutivo como esse, por apenas adoçar meu ego com uma colherinha de sarcasmo, ainda mais em troca de uma inimizade gratuita. sugeri que continuasse escrevendo, que eu também tinha ambições literárias e, não com estas palavras, que escrevesse mais como um exercício de consciência e debate de ideias, e não de autobajulação. como o conselho não parecesse ter sido bem recebido, dei-lhe um sorriso fabricado e pensei que contra a presunção de eloqüência não há afagos; ele que seguisse na sua busca por reconhecimento, e eu, de minha parte, continuasse contra a maré, na minha busca pelo esquecimento, esquecimento como afastamento de tudo o que significa senso comum. e que eu também relativizasse minhas certezas pois, obviamente, o parnasianismo alheio soa sempre mais incômodo aos ouvidos que o nosso próprio.... que todos tenham a oportunidade de, uma vez na vida, trazer à luz seus versos piegas e autoindulgentes; e que todos possam, igualmente, se dar conta do ridículo e buscar, na introspecção e no esquecimento, a fonte das verdadeiras letras; não aquelas, atraentes, que soam macias aos lábios próprios e ásperas aos ouvidos alheios, mas as que são maiores que as mãos que as escrevem, e que vêm ao mundo não para engrandecer os envelopes que as entregam.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


carnaval, uma festa kosher

Hitler tentou erradicar os judeus da face da Terra, mas isso só porque a Munique dos anos 1930 era uma cidade chata e fria e sem carnaval. tivesse ele desistido das suas pretensões estéticas e passado um feriado prolongado no Rio de Janeiro da época, teria se esbaldado de confete, serpentina, cerveja e samba. tão hipnotizado estaria pelo requebrado das mulatas, desejando ficar pra sempre naquele paraíso tropical onde não havia pecado, que nem se daria conta do quanto o carnaval brasileiro deve à herança judaica suas manifestações mais exponenciais. o diamante bruto das tradições portuguesas, indígenas e africanas foi polido pelos sefarditas, que transformaram nosso carnaval no primeiro feriado inteiramente kosher das Américas.

a construção do carnaval alimentarmente responsável remonta ao período colonial. a cidade do Recife foi, de acordo com muitas fontes, sede da primeira sinagoga das Américas. em pleno século XVII, a comunidade judaica temporã se horrorizava com o costume dos nativos de realizar corridas de porcos pelas ruas da cidade, ao estilo das touradas ibéricas, ainda por cima com o objetivo de comê-los em grandes churrascos no fim das festividades, no que ficou conhecido como a “quarta-feira das cinzas”. a guerra de expulsão dos holandeses, entretanto, viria a provocar séria escassez de animais de abate, erradicando os porcos da capitania. não havia melhor oportunidade para lançar uma nova moda: os judeus da cidade logo propuseram a perseguição de galos e galinhas pelas vielas, animais perfeitamente comestíveis, com bucho e polegar opositor – ainda que de telencéfalo subdesenvolvido - e bem mais fáceis de agarrar. estaria aí lançado o gérmen do hoje mundialmente famoso Galo da Madrugada.

o costume açoriano de embriagar-se com leite de cabra, muito comum na antiga Olinda, seria outro aspecto do carnaval que não resistiria ao kashrut. por pouco tempo puderam os infiéis foliões cometer o despautério de misturar o leite com a carne: em resposta aos efeitos catastróficos da grande seca de 1877, o presidente da província, Manuel Clementino Carneiro da Cunha, que tinha ótimas relações com as associações israelitas locais, ordenou a exportação de todas as cabras da zona da mata para o sertão, a fim de alimentar os famélicos camponeses que haviam perdido tudo. visionário, Carneiro da Cunha já havia feito contato com empresários ashkenazis de Antuérpia para a instalação de uma cervejaria na capital, visando acolher a demanda reprimida de leite de cabra com uma nova bebida, refrescante e euforizante, própria para o carnaval. a cervejaria belga não viria a concretizar-se, mas o hábito da cerveja terminou por invadir os lares brasileiros e assegurar que carne e leite não mais se encontrariam nos blocos carnavalescos.

com o passar dos anos, a herança judaica na cultura veio a embutir no inconsciente dos populares o cuidado com a organização das brincadeiras, sadiamente posterizando a festa kosher para as próximas gerações. rumores dão conta de que tentativas de batizar alguns blocos de rua de Pernambuco com nomes de frutos do mar, como o "Bloco dos Camarões" e o "Mexilhão Dourado", foram sutilmente desmobilizadas, por não soarem bom agouro, dando origem aos comestíveis Bloco das Ilusões e Pavão Dourado. o título do Bacalhau do Batata, atração das ladeiras de Olinda na quarta-feira ingrata, não foi contestado; afinal, diz o Levítico, barbatanas e escamas são perfeitamente aceitáveis.

mais recentemente, com o advento das ações de responsabilidade social como contrapartida de todos os grandes eventos nacionais, ao mesmo tempo em que evoluem as práticas mais luxuriosas e escatológicas do carnaval entre os jovens, foram de responsabilidade da comunidade judaica as primeiras campanhas nacionais de doação de sangue durante o feriado. mais que salvar vidas, é dever do folião entender que não se deve cheirar, lamber ou consumir nada que tenha sangue, quanto mais o seu próprio.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

amanhã, quarta-feira de cinzas, é o dia fora do tempo. intervalo para tomar fôlego e um engov. e na quinta-feira, 18 de fevereiro, inicia-se oficialmente o ano de 2010 no Brasil.

inicia-se também o compromisso de manter este blog atualizado. vamos ver. o padrão de qualidade almejado deve ser igual ou superior ao das postagens de 2007.

domingo, 6 de dezembro de 2009



apois

pro cantadô de sertanejo

só há quatro coisa nesse mundo enfim

amô, furria, viola, muito dinhêro

viola, furria, amô, dinhêro sim

(Elomar)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

o milagre da multiplicação

já são seis as mulheres que alegam ter tido filhos com o Bispo/Presidente Fernando Lugo, do Paraguai. um dos garotos foi reconhecido pelo Presidente como seu filho legítimo. foi formado, inclusive, um grupo de trabalho, com representantes das secretarias da Mulher e da Infância da Presidência paraguaia, para "administrar" todos os casos de paternidade imputados ao presidente.

uma coisa não se pode dizer de Lugo: que ele tenha descumprido ostensivamente as orientações da Igreja. a proibição do uso da camisinha, como se vê, foi religiosamente observada.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

viva Brasília!

a festa foi "monumental", de acordo com a imprensa oficial e, aparentemente, a ressaca também: seguindo-se à grandiosa festividade popular pelo aniversário de 49 anos de Brasília, realizado neste 21 de abril, o alvorecer do Dia do Descobrimento foi marcado pelo volume descomunal de lixo esparramado pela Esplanada dos Ministérios, patrimônio cultural da humanidade. nesta manhã, os ministérios se erguiam altivos em meio a um aterro sanitário, onde o cheiro que emanava das pilhas de lixo se confundia com o futum de urina que impregnou as calçadas do local. o tráfego de helicópteros na região central da cidade foi também "monumental", necessário ao antendimento das diversas ocorrências registradas pela PM: ao todo, em confusões durante a festa, 22 pessoas foram esfaqueadas. uma morreu.

neste ano, foram realizadas apresentações de Jota Quest, Xuxa, Jorge e Matheus e Cláudia Leitte. o governo do DF já comemorou o sucesso do evento e cogita trazer uma atração internacional, como o U2, para a festa do próximo ano. tomara que traga também mais respeito ao patrimônio público e cultural da humanidade, com uma melhor organização e serviço de limpeza, e mais respeito à população, com um melhor aparelhamento de segurança. que venham os 50.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

não deu no niuiorquetáimes: Sarkozy, presidente francês, em prestação de contas ao parlamento francês sobre a recente reunião do G20, achou de bom tom tratar mais de suas impressões a respeito dos colegas. não deixou de mencionar que Obama é um cara muito inteligente, muito carismático e muito ingênuo; que Merkel se viu forçada a dar o braço a torcer e referendar a sua posição quanto à crise econômica mundial; que Zapatero se inspirou nele para suprimir a publicidade nas tevês públicas espanholas; e que Berlusconi, esse sim, é o cara, um exemplo a se seguir na política. afinal, "o importante na democracia é ser reeleito". e o presidente francês referendou, mui respeitosamente, o fato de Berlusconi ter sido reeleito três vezes.

desconsiderando a comovente modéstia do líder francês, infere-se do seu raciocínio que Hugo Chávez e Evo Morales estão pavimentando e duplicando a estrada para a democracia.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O Sábio disse:

"Também estava lá, e fora de seu horário, o censor oficial, Jerônimo Ortega, que chamávamos de Abominável Homem das Nove porque chegava pontual a essa hora da noite com seu lápis sangrento de sátrapa godo. Ficava por lá até assegurar-se de que não houvesse letra impune na edição da manhã. Tinha uma aversão pessoal contra mim, por minhas veleidades de gramático, ou porque utilizava palavras italianas sem aspas e sem grifar quando me pareciam mais expressivas que em castelhano, como deveria ser de uso legítimo entre línguas siamesas."

Memória de Minhas Putas Tristes, G. G. Márquez