terça-feira, 22 de julho de 2008

A Modernidade em Três Palavras

- Crédito ou débito?

domingo, 13 de julho de 2008

O CAVALEIRO E O DRAGÃO

O que me impede de desenhar na parede? Essa é a pergunta que me motivou a sentar aqui e escrever nesse rasgo de camisa com gotas do meu sangue. Existe uma discrepância séria entre o que eu acho que seria bom fazer – desenhar, deixar marcas da minha tragédia – e o que me sinto impelido a fazer – não desagradar o dragão. Aí, mais uma vez, tenho que dar razão ao Merlin quando ele diz que o processo a ser trabalhado é a minha relação com meus desejos. Enquanto morava no meu castelo, distante da presença intoxicante e terrificante do monstro, me rendia irrefreadamente a realização dos meus desejos. A partir do meu seqüestro pelo covarde dragão, me tornei um homem sem desejos, sem objetivos, sem perspectivas nessa sombria caverna. A suposição de Merlin é de que a minha vinda para o cativeiro foi o remédio inconsciente para interromper a também destrutiva busca pela satisfação do desejo de satisfazer os desejos dos meus súditos. Ou seja, era refém de uma dinâmica alienante dos meus verdadeiros desejos e, para interrompê-la, vim para cá, supostamente para vencer o cruel monstro sanguinário, na realidade, buscando um lugar em que não desejo nada, me reduzo, me aniquilo. Será que é possível reverter essa dinâmica aqui, sob o olhar dominador e opressivo do malvado dragão? Será que tenho a capacidade de voltar para o meu reino sem me transfigurar num objeto de desejo alheio? Será que não sou invariavelmente a mesma coisa: um objeto do desejo alheio, tendo como única diferença o fato de ser desejado pelos súditos e não sê-lo pelo dragão? Isto me parece fazer sentido, no entanto não sugere claramente uma solução. Será que devo continuar tentando atender aos meus desejos, ou será que aquilo que chamo de desejo ainda não o é autenticamente? Porque, se sou apenas objeto do desejo alheio, desejo apenas ser desejado, o que não consiste em um verdadeiro desejo como eu o entenderia. Será que estou enganado? Será que não sou nem mesmo refém daqui? Será que na verdade tenho apenas que assumir esse desejo e continuar buscando realizá-lo? Se de fato não existe essa necessidade de agir sobre os meus desejos, possivelmente não há realmente uma discrepância na minha relação com o desenhar na caverna. Há, mais uma vez, uma tentativa de fazer algo que suponho poder melhorar minha capacidade de ser desejado pelos outros. Qualquer coisa que faça ou deseje fazer estará preso a essa dinâmica: fazer uma fogueira, tentar fugir, alimentar o dragão, lutar heroicamente contra ele. Acho que só me resta me recolher a um canto longe dos olhos do dragão e de qualquer um e dormir, desejando autenticamente não ser mais nada.