quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Três estrelinhas

COUTINHO, Eduardo. Jogo de cena, Brasil, 2007, 104 min.


Filme, pra mim, de difícil classificação. Aspectos de documentário, como os depoimentos reais de pessoas desconhecidas que atenderam ao anúncio do cineasta; aspectos de ficção, como as re-interpretações dos testemunhos por atrizes. O filme transita permanentemente entre o real e o fictício gerando impactos afetivos distintos. Quando aparece um rosto famoso contando a mesma história do rosto desconhecido provoca-se uma sensação de segurança por termos, supostamente, elementos suficientes para distinguir o que era verdade do que era mentira. Já nos momentos em que nos era apresentado um único depoimento sem contrastar com outra versão para o mesmo, criava-se uma tensão angustiante. Parece um tipo de canalhice não apresentar claramente ao espectador se estamos assistindo a um duplo do mundo real ou apenas a uma criação artística. No entanto, se reconhecermos que, em verdade, essa distinção é meramente ideológica, convencionalmente estabelecida, mergulhamos num mar de incertezas provocador, mas talvez mais honesto do que esse maniqueísmo simplista. Esse jogo que se estabelece poderia ter ido mais longe. Nos momentos em que o diretor/entrevistador se dirige às atrizes tratando-as pelos seus conhecidos nomes para extrair impressões sobre suas atuações, adentramos em terreno seguro. Seria bastante pertinente e perturbador apresentar indícios de que mesmo esses diálogos “francos” entre atrizes e diretor poderiam não ser autênticos.

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