quinta-feira, 8 de novembro de 2007



teu perfume, Juliette, segue tão vivo como se com ele estivesses em carne e osso provando vestidos em frente ao espelho, me indagando sobre este ou aquele broche sendo que todos ficavam tão bem, e ver-te experimentando um a um me levava a explorar com mais atenção os teus olhos vivos e tua pele clara e teu sorriso de Monalisa que tomou carne sem prescindir do espírito. este perfume segue dançando, Juliette, pelos cômodos vazios de forma na ausência do teu andar gracioso e infantil, quando andavas de um lado ao outro com pós e batons esculpindo com tanto cuidado a superfície serena da tua face, esta face luminosa que segue no espelho, segue no espelho trançando os cabelos antes de dormir.

eras ainda mais bela, Juliette, quando eu te ouvia cantar passeando pelos jardins em manhãs despreocupadas de domingo, fazendo dar saltinhos de felicidade a pequena Clara, que já assinalava na face precoce toda a beleza que tão breve herdaria na puberdade. essa beleza que transbordava em gestos, em olhares carinhosos, em atos de devoção desmedida e entrega absoluta, em que o calor do teu corpo desarmava meu coração e me levitava sobre sonhos bucólicos.

tuas cartas, Juliette, de amor dedicado, reavivam teus lábios cada vez que as abro. e tua presença sobre o tablado, tão leve e tão vigorosa, se ensaia e representa em minha frente cada vez que as leio. sigo sentindo teu perfume. ainda ouço teus passos. ainda há pouco jurei ver tuas vestes esvoaçantes correndo livres, varrendo a poeira da saudade dos dias mais claros e noites mais belas que vivi. teus olhares e sorrisos me assaltam em cada cômodo vazio, em cada corredor. sempre tão viva, tão presente, tão perene em sua devoção. guardo-te aqui, aqui de onde nunca saíste. tuas tranças e braços, nossos corpos e almas, seguem íntegros, unidos na doce realidade dos meus mais belos sonhos.


para J. Drouet

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