terça-feira, 4 de dezembro de 2007


forçado pelo atraso a me sentar no chão, as coxas da menina da cadeira ao lado competiam de igual pra igual com a peça que se encenava. mirando por cima delas, eu via atos que se apresentavam em uma seqüência não-linear, em espaços indefinidos pela impessoalidade e desenhados pelos diálogos e ações de personagens estranhos. a luz simulava ambientes; a luminosidade dos diferentes ambientes, [simulava]? as mudanças de rumo, as trocas de cenário, as transposições para novas histórias, a metalingüística injetada nas mentes dos espectadores por um narrador onisciente. os diálogos insólitos se seguiam a posturas incomuns, as temáticas evoluindo da lama primordial à intuição metafísica e retornando às profundezas do absurdo após leves arranhões na polpa arroxeada do céu. espectadores estranhos; algumas faces voltadas ao chão, corpos projetados para a frente nas cadeiras de plástico. alguns homens com olhar assustado, a mão na boca e as pernas cruzadas como se nada houvesse entre elas, meu espanto e indiferença; mulheres que ora riam ora soltavam gemidos involuntários aos muitos tapas que estalavam nas faces e retinas. risadas desmedidas, sorrisos desesperados, alegrias irônicas e despreocupadas; outra peça se desenrolando na platéia. e sobretudo - em meio à mistura de sensações, ambientes, pessoas, formas, cores, as dores e delícias do mundo sendo desveladas em doses homeopáticas, em frações singelas de realidade - seguiam tenras, macias, ingênuas, minissaias, a um palmo do meu nariz, as coxas da menina da cadeira ao lado, disputando a minha atenção com todo o resto dos braços, olhos e coxas do mundo.

6 comentários:

Diego Rodrigues disse...

Pornógrafo!

Diogo Cão disse...

disponha, meu caro.

Anônimo disse...

Diego, você também olhava pras coxas da menina do seu lado esquerdo?! hê-hê-hê

Diego Rodrigues disse...

Não olhava para as coxas. Eu as alisava, apertava, acariciava, arranhava, enquanto assistia atentamente ao espetáculo... das coxas se movimentando, cruzando, descruzando, esticando.

Anônimo disse...

:)

Diogo Cão disse...

pornógrafos!