quinta-feira, 1 de novembro de 2007



PLAYMOBIL


O texto pro blog. Não é uma necessidade de expressar uma inquietação intelectual, um sentimento pungente. Esse texto preenche a miserável missão de ocupar um ordinário espaço no mundo virtual. Ordinário! Comum. Sem brilho. Adjetivos atribuídos àquilo que não comove ninguém. Às manifestações que, de tão rotineiras, perdem um pouco da sua realidade. Nem lembramos se aconteceram de fato. São coisas que se tornam etéreas. O homem não projeta sua atenção sobre estas. Sua textura de realidade fica fina, quase transparente. Até que a coisa de tão esquecida perca até o nome. A partir daí, ela só aparecerá simbolicamente nos sonhos da humanidade. Eventualmente, alguém pode resgatar aquilo, atribuir-lhe de novo forma e significado, ainda que ninguém possa lembrar que aquilo tenha tido existência anterior. Se a linguagem não aprisiona a realidade em nomes - gaiolas herméticas e frias -, a comunicação, então, exige excesso de humanidade para um playmobil. “Nós, playmobils, encaixamos freneticamente nossos bloquinhos conceituais em duas dimensões, formando imensos monólitos de obviedade.” Trecho da Declaração Positiva dos Direitos dos Bonecos de Plástico. “Artigo Primeiro: todo ser pode abdicar de sua dimensão de ser. É-lhe garantido o direito inalienável de alienar-se de sua própria existência.” Um dia, algum desregrado que ainda esconde a habilidade de sonhar em alguma esquina de sua monótona cidade de concreto, outrora, sua consciência, chora compulsivamente de saudade de um desconhecido boneco que se inquietava com a vida.

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