sexta-feira, 23 de novembro de 2007



Bom-dia

Senti uma dor no peito, hoje. Dor que provavelmente desejei muito. Há tempos questionava minha capacidade de me apaixonar. Me julgava um homeme frio, deficiente emocionalmente. Pronto, aí está a prova de que estou vivo: chorei por amor, aliás, chorei pela falta dele. Quando veio o impacto das palavras caladas e dos toques calculados, fiquei perplexo, sem reação, silencioso. Cheguei em casa pressentindo que uma tempestade se formava dentro de mim. Ainda assim dormi surpreendentemente bem, achei isso muito bom. Depois, acordei vazio. "E agora?". E agora, os primeiros sintomas de quem sofre por amor vieram. Olhei pra comida e nada me apeteceu, nem mesmo uma fruta. Tudo parecia excessivamente denso e pesado pra aquele momento. Logicamente, as pobres bananas e maçãs não tinham qualquer culpa. Eu é que estava com um sentimento inexplicavelmente verdadeiro. Dei bom-dia ao porteiro. Entrei no carro e escolhi cuidadosamente minha trilha sonora: 89,9 FM. Acho que era um bolero que tocava quando tive coragem de gritar. Gritei. Depois do grito, consegui respirar profundamente. Parecia que faziam séculos que não enchia meu pulmão com sua capacidade máxima, mas logo o ar escapou. Isso me entristeceu. É, isso mesmo. Como é que subitamente nos tornamos tão piegas? Antes de estacionar, ainda tive tempo de buzinar pra um maluco que manobrou imprudentemente. Mas o grande momento mesmo estava por vir. Entrei na minha sala de trabalho, repousei minha pasta sobre a mesa, olhei pro monitor do computador e me sentei. Primeiro vieram soluços, cada vez mais intensos e longos, depois o tremor dos lábios. A essa altura, meus olhos já estavam semi-cerrados e meu cenho decisivamente franzido. Gemi com cuidado pra não chamar atenção. Fui me entregando aos poucos, resistindo o quanto pude. Finalmente, me entreguei e, só então, vieram as lágrimas lavar meus olhos. Enquanto chorava, emitia alguns grunhidos que podem soar como um profundo lamento de auto-piedade, mas acho que era outra coisa. Talvez apenas fosse o desejo de desfrutar um pouco mais da catarse. Havia raiva. Raiva de mim por ter me deixado agredir, por não ter me defendido. Raiva dela por suas grosserias, pela inexistência de diálogo. "Uma pessoa pode escrever poesia tão linda, cartas de amor pra si mesmo tão autênticas a ponto de não precisar compartilhar seus sentimentos por meio de palavras?" "Não sei." "Vivi a fantasia de conhecer alguém." Logo, logo meus olhos pararam de lacrimejar. Não tive tempo de me olhar no espelho, mas suponho que meu rosto deve guardar marcas do choro, ao menos, é o pouco que posso deduzir do meu reflexo na tela do computador. Durante o dia que ainda está começando, devo transitar entre a auto-piedade e a alegre artificialidade. Em algum momento, voltará a quietude e a sensação de que o que eu vivi foi muito mais aquilo que registrei nessas palavras do que esse sofrimento pungente. Quando tiver perdido o rastro dessa dor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aí colega!
Já vivenciei uma experiência dessa natureza,no início parece muito louco ,mais depois a gente percebe que vale a pena ser valente.Entendi que é preciso descobrir se vale a pena o investimento;cara! presta atenção analise a figura,porque se você deixar passar a oportunidade de descobrir o outro lado por medo do tal amor,se pode se lascar todo e ficar sem ele;meu se essa mina mexeu contigo, é porque ela com certeza deve ser diferente de todas as outras que você conheceu;eu sei do que tô falando,quase que perdi... E aí será que ainda dá tempo?